Embora seja discutida como se fosse uma
doença única, a esquizofrenia pode ser considerada como uma síndrome
heterogênea, ou ainda, como um grupo de transtornos com causas heterogêneas. A
sua pode ser considerada a história da própria psiquiatria, uma vez que a
quantidade de estudiosos desta enfermidade é vasta. Neste contexto, o
psiquiatra francês Benedict Morel (1809-1873) foi quem primeiro se utilizou do
termo démense precoce, o qual seria latinizado, mais tarde, por Emil Kraepelin (1856-1926) como dementia precox. Caberia, porém, ao suíço Eugen Bleuer, em 1911, a criação do termo
“esquizofrenia” que indica a presença de um cisma entre
pensamento, emoção e comportamento (esquizo = cisão, frenia = mente).
Muito embora se considere a esquizofrenia
um achado raro, atualmente se sabe que a sua prevalência é algo em torno de 1%
em todo mundo; entretanto, apenas uma pequena parcela desta população recebe o
tratamento adequado.
Não há características patognomónicas da
doença, ou seja, os sinais e os sintomas não são exclusivos da esquizofrenia,
podendo-se, assim, encontrá-los em outros distúrbios psiquiátricos e/ou
neurológicos. Dessa maneira, a sintomatologia esquizofrênica se apresenta
demasiada abrangente. É interessante notar, no entanto, a presença importante das
alucinações e dos delírios.
Ainda, pela complexidade do distúrbio,
foram diferenciados vários tipos de esquizofrenias, sendo estes os principais
subgrupos: paranoide – caracterizada, fundamentalmente, pela presença de
delírios de perseguição ou de grandeza; desorganizada ou hebefrénica –
caracterizada, principalmente, por uma regressão acentuada a um comportamento
primitivo; catatônica – caracterizada por uma acentuada perturbação
psicomotora; indiferenciada – nesta modalidade, pacientes dificilmente se
encaixam em um dos outros tipos; residual – em que os delírios e/ou alucinações
são pobres.
Mas, apesar destas diversas nomenclaturas,
a sua causa, para a medicina oficial, é ainda desconhecida. Nada obstante, no
aspeto bioquímico, observou-se que a atividade dopaminérgica é muito elevada
nos indivíduos esquizofrênicos. E, na atualidade, outros neurotransmissores vêm
sendo colocados na implicação da fisiopatologia desta doença, tais como a
serotonina, a noradrenalina e o GABA. Neuropatologicamente falando, o sistema
límbico, que exerce importante papel no controle das emoções, em pacientes
portadores de tal síndrome, apresenta, conforme foi observado, diminuição no
tamanho da região que abrange a amígdala, o hipocampo e o giro parahipocampal.
Apesar de este sistema ser, de acordo com os estudiosos, a base fisiopatológica
da doença, outras áreas cerebrais parecem estar envolvidas, como os núcleos
basais, já que estão relacionados com o controle dos movimentos, os lobos
frontais do telencéfalo, o tálamo e o tronco cerebral. Geneticamente,
observa-se que há uma ligação na presença de distúrbios em membros de uma mesma
família, sendo esta tanto mais forte quanto maior for o grau de parentesco.
Modernamente, ainda, os exames sofisticados de imagens cerebrais, tais como a
ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons, e os
eletroencefalográficos vêm dando maiores subsídios para o estudo.
Um modelo para integração destes fatores
etiológicos é o de estresse-diátese, no qual há no portador uma vulnerabilidade
específica, ou diátese, a qual deve ser influenciada por um estresse para o
surgimento da sintomatologia. De modo geral, tanto o primeiro quanto o segundo
podem ser biológicos e/ou ambientais. Outrossim, mecanismos ditos epigenéticos,
como traumas e drogas, podem contribuir.
Percebe-se, pois, que a esquizofrenia é
uma síndrome com grande componente fisiológico. Além disso, fatores
psicossociais merecem grande destaque. Neste sentido, diversas teorias
envolvendo o paciente, a família e os aspetos sociais foram elaboradas. Como
exemplo, as teorias formuladas pela psicanálise, não só as relativas a Freud,
mas também as de Sullivan e as descritas por Margaret Mahler.
Há de se considerar sempre, no entanto, a
complexidade desta enfermidade. Sendo assim, imperioso é lembrar as palavras de
Bleuler, quando concluiu ser a esquizofrenia “uma afeção fisiógena, mas com
ampla estrutura psicógena”.
Dessa forma, do ponto de vista
fisiológico, apesar das grandes descobertas já realizadas até aqui no campo dos
mecanismos etiopatogênicos, é preciso considerar que o arsenal ainda não se
esgotou. Isso porque, afora as contribuições psicossociais, há que se levar em
consideração o Espírito imortal, agente causal fundamental.
Não é de se espantar, portanto, as
palavras do sábio grego Sócrates, quando bem afirmou que “se os médicos são
malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem
tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que
uma parte dele passe bem”.
A Doutrina Espírita identificando o
indivíduo real como sendo o Espírito, ser pensante do universo, estudando
profundamente as relações deste com o corpo material, através do seu
envoltório, ou perispírito, no dizer de Allan Kardec, comprovando a imortalidade
da alma, através das comunicações mediúnicas e a capacidade que os
desencarnados têm de influenciar os ditos vivos, mostrando a reencarnação e
explicando os mecanismos evolutivos da lei de ação e reação, mostrando a
loucura por outro prisma e destrinchando os mecanismos das obsessões, abre
novos rumos ao entendimento desta importante doença.
Desse modo, como dissera o Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes, nessa estrutura psicógena, falada pelo eminente psiquiatra
suíço supracitado, situam-se, igualmente, os fatores karmicos, de procedência
anterior ao berço. Isso porque também o paciente esquizofrênico é um Espírito
imortal em processo de evolução.
Neste contexto, pois, observa-se que a
esquizofrenia guarda a sua origem profunda no Espírito que delinquiu. Este fica
atormentado pela consciência de culpa, devido aos erros de vidas transladas, os
quais, provavelmente, passaram despercebidos pela justiça terrena, mas não
foram capazes de ludibriar as leis do Criador, porque inscritas dentro do ser.
Consequentemente, tal sentimento impregna o perispírito e, mais cedo ou mais
tarde, em uma nova vida, vai trazer à tona no corpo físico, desde antes da
conceção fetal, os fatores necessários para a predisposição à síndrome e para a
necessária reparação dos crimes cometidos.
Não se trata, portanto, de uma cisão do
pensamento, conforme lhe indica o nome, mas de uma dificuldade em
exteriorizá-lo em face do processo complexo supra explicado que constitui para
o esquizofrênico um impositivo expiatório, uma vez que em outras tentativas
provacionais, em outras existências, ele fora malsucedido.
Dessa maneira, com as contribuições da
ciência espírita, pode-se entender a esquizofrenia como sendo uma síndrome que
tem no seu fundamento um transtorno espiritual. Este gera no corpo os meios
fisiológicos necessários à sua exteriorização, sendo influenciado por diversos
fatores psicossociais. Além disso, é preciso levar em conta a influência
negativa, através da obsessão, gerada pela(s) antiga(s) vítima(s) do atual
doente, o que contribui para o agravamento do quadro e para o surgimento de
outras disfunções características do transtorno. Por isso mesmo, é preciso
vê-la como sendo um processo misto de natureza espiritual, fisiológica,
obsessiva e com fortes influências psicossociais.
Mister se faz anotar, ainda, que todas
essas etiologias atualmente explicadas pela ciência são, na verdade,
“causas-conseqüências” e não as origens reais, uma vez que estas se encontram
no ser causal e não na sua cópia material. Afora isso, a complexidade sintomatológica
e causal está, certa e diretamente, ligada às intricadas e complexas tramas do
Espírito e do destino. Outrossim, aquilo que muitos têm na cota de alucinações
e de delírios são, em reiteradas oportunidades, contatos mediúnicos; não se
ignorando, entretanto, que podem ser também reflexos da consciência em
turbilhão que traz, de quando em vez, sensações do passado ou ainda originadas
pela desorganização do soma.
Portanto, por se tratar de uma síndrome
com grandes componentes fisiológicos, o tratamento farmacológico guiado pelos
antipsicóticos propostos pela psiquiatria se faz urgente. Tanto para reprimir
os sintomas, quanto para tratar aquilo que preferimos chamar de “causas-consequências”.
No entanto, não se deve furtar aos benefícios das diversas abordagens
psicoterápicas vigentes para ir além da tratativa dos sintomas.
Observando-se as contribuições do
Espiritismo, que vislumbra o ser integral, imprescindível se faz, com o
objetivo de remontar às causas fundamentais da esquizofrenia, não ignorar a
terapêutica espiritual, quais sejam a desobsessão, a fluidoterapia pela
imposição das mãos e pela água, a oração e, primordialmente, a psicoterapia
oferecida pela Doutrina Espírita, que se baseia nos ensinos de Jesus do amor e
da caridade, e que um dia não muito longínquo impregnará os conceitos das
academias.
Nada obstante, não se devem esperar
resultados exageradamente rápidos em se tratando de tão grave enfermidade que
tem raízes fincadas no passado, próximo ou milenar. Além do mais, seres
imortais que todos são, os homens não devem vislumbrar apenas o momento
fugidio, mas, sobretudo, o relógio do futuro.
Sendo assim, como ser imortal que vive no
presente cuidando do porvir, o indivíduo, Espírito que é, deve procurar o
trabalho da profilaxia. E, neste contexto, como se pode deduzir, o Evangelho de
Jesus é ainda, e sempre será, a melhor alternativa. A sua mensagem de vida
abundante deve hoje, e deverá amanhã, penetrar as vidas de todos em busca da
saúde integral. O amor, terapêutico e profilático, é, e sempre será, o divino
remédio. Neste sentido, a relevância oportuna das palavras do Mestre:
“reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto
estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos
entregue ao ministro da justiça e não sejais metidos em prisão”. E esta prisão,
muitas vezes, vem em forma de uma estrutura nervosa desajustada, similar àquela
que ocorre em um paciente esquizofrênico.
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